Voar para longe...

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

 É incrível como eu gosto da vida, mesmo que ela me dê alguns socos e chutes na cara... Ultimamente essas coisas pararam de me afetar. Talvez quando eu percebi que esses socos eram ensinamentos e que a vida era uma dádiva,e que esse mundo é meu paraíso cheio de intrusos, a maioria indesejável. Acho que eu não deveria estar aqui, em um post dedicado a um mundo de tristeza e problemas com nosso interior, mas estou dividida entre a boa e a má pessoa. Não é como se eu fosse dar um basta e dizer que serei saudável e boazinha, ir para a igreja todo final de semana e comer-mil-e-poucas-calorias-por-dia e entender que sou-linda-assim-e-Deus-me-quis-assim-e-devo-me-amar-pois-sou-amável. Eu não consigo, embora goste de enfiar comida na boca, tenho receio de voltar a afundar os dedos na garganta e essa chama de vida desaparecer, mas ao mesmo tempo sinto que os cortes e a comida saindo por onde entrou fazem parte dessa chama da vida.
  Acho que comecei a gostar da vida quando percebi que ela é frágil. Uma caixa de remédio, um corte mais profundo ou um simples salto nos trilhos do trem termina o que milhares de pessoas lutam para manter; a vida parece tão fixa, mas ela é a coisa mais frágil que temos. Uma simples esquina virada errada, um simples passo para frente e tudo é destruído. Acho que quando me toquei que não sou uma regra desse mundo mórbido e degradante, comecei a apreciar as coisas ao meu redor. O belo sol alaranjado no fim da tarde de verão, as ruas aos poucos sendo iluminada pelo calor da manhã de mais um dia comum para os trabalhadores, os carros passando rapidamente, todo ser com seus problemas se sentindo únicos, sem saber que são todos iguais. As simples coisas da vida, as simples memórias da infância me faz respirar fundo e pensar que é bom estar viva, e talvez eu esteja tão concentrada nessas coisas boas que eu esteja fazendo coisas boas, ou tentando enxergar a beleza na desgraça, apenas para passar mais um dia, mais uma semana.. mais um mês. Tento aproveitar ao máximo que pode, aprecio as árvores que se movem ao vento, os morros que contornam o céu azul e as pessoas sem significado algum para mim apenas enfeitam, ou "enfeiam" a paisagem em minha frente.
  Alguns momentos me bate o desespero, como aquele momento em que o brinquedo de um parque vira de ponta cabeça e você fica gritando, suspenso no ar, achando que a catraca vai se quebrar e você vai cair, e pior que morrer é ficar na dor e paralisia total. Em alguns momentos, não sei porque as lágrimas saem de meus olhos, apenas sei que me deixo levar pelas músicas tristes e tocantes e penso em todos os motivos que me fazem enlouquecer; me sinto egoísta, enquanto dizem que eu ajudo muito mais do que devo, sinto que estou fazendo pouco. Me sinto incapacitada, e olho ao meu redor, percebo que estou sozinha. Acho que tem algo errado comigo, pois vejo todos com seus amigos nos finais de semana e, bem, lá estou eu, caminhando sozinha pelas ruas e parando hora ou outra para conversar banalidades com desconhecidos, sorrindo de verdade ao falar com a dona de um cachorro de rua ou rindo das piadas de um dono de bar, discutindo política com o motorista ou sobre o calor na fila do mercado. Não consigo fazer as amizades durarem, acho que o cadeado está quebrado e qualquer um se desprende rapidamente de mim como se não houvesse nada interessante em meu interior. Coleciono objetos pequenos para dias agradáveis e colo-os em um caderno repleto de memórias, coleciono pequenas coisas, inúteis e até desagradáveis por estar com um interior vazio. Coleciono experiência e imagens bonitas, coleciono histórias de desconhecidos e seus ensinamentos por não ter nada de agradável que eu possa produzir. Sou uma mochileira, todo final de semana coloco minha mochila nas costas e vou para algum lugar -não tão longe quanto gostaria, mas um passo de cada vez. Estou sozinha, como sempre. Caminhando por ruas estranhas e pegando ônibus de itinerários diferentes. Ninguém gosta de me acompanhar, porque sou o típico clichê adolescente de "ninguém me entende". Não faço parte dos jovens atuais que tiram foto de si mesmo em um grupo, que vão em uma pizzaria sexta a noite e dão risada entre si. Não faço parte das que se arrumam e buscam garotos no shopping, na escola ou na praça. Faço parte dos livros, música e filme, passo o dia assistindo jornal, lendo, estudando ou escrevendo, enquanto a maioria sai com os amigos, assiste novela e discute beleza e futebol. Essas futilidades não me são o suficiente. Sou complicada de agradar, sou um desafio que não vale a pena, aquela estrada velha e emburacada que promete paisagens lindas mas está devastada pelo aquecimento global e depredação humana. Não aguento ficar em uma igreja, um-dos-maiores-e-melhores-ciclos-sociais-segundo-minha-mãe, apesar de amar o Criador e honrá-lo, meus desejos, pensamentos e atitudes não são tão aceitáveis mesmo que não sejam tão erradas. Não consigo agradecê-lo entre quatro paredes com hinos longos e desinteressantes para mim, só consigo agradecê-lo quando sinto o vento bater contra meu rosto, quando vejo os morros, as árvores e  o sol nascendo e se pondo... Coisas do dia-a-dia me lembram dele, e entrego minha vida a Ele, não consigo fazer isso em horários específicos e viver em comunhão, eu amo o próximo... Aquele mendigo em que não posso ajudar por ser pobre e fracassada, aquele animal que, por não ter meu próprio lar e renda mensal, não posso tirá-lo das ruas e cuidar com todo amor que meu imenso coração esfaqueado e costurado com linha colorida e mal feita assim como o fundo de minha mochila antiga pode oferecer. Aquelas pessoas que oram todas as noites não me agradam, eles cravaram suas facas em minhas costas quando tentei fazer parte deles, e quando me recolhi com os pulsos manchados e rosto molhado de humilhação, arrependimento e amargura, fui facilmente de ser esquecida assim como todos os por-do-sol que eles nem fazem questão de apreciar. Sinto-me pequena cercada de gigantes, desarmada diante tantas facas e flechas apontadas para mim, então me recolho em meu canto e quando não faço barulho nem me mexo rápido demais, posso conhecer minha casa, que é meu país, e lutar para atravessar a porta e conhecer meu quintal, que é esse mundo. Embora não possa expulsar os parasitas que causam guerras e destruição, tento me focar na parte boa e pequenas coisas que posso muda. Porém aquele momento de tristeza bate, e lá estou eu me sentindo indigna e assombrada pelos fantasmas do passado, embora atualmente eu já tenha sido esquecida por aqueles que juraram me ajudar e sua amizade e compreensão, meu cérebro insiste em esfregar em minha cara os meus erros, assim como fazemos com um cachorro quando ele faz suas necessidades perto do sofá novo e bonito e logo aprendem a fazerem no quintal. Eu juro que aprendi com meus erros, e talvez eu tenha levado ao lado extremo não me envolver demais, me abrir significa levar facadas, e se eu sangrar mais um pouco, talvez não tenha mais sangue para próximas vezes, então eu tenho que recolher, e erguer imensas barreiras como os EUA fazem na divisa do México, mas fortes como a Muralha da China e tão... Fria, quanto o muro de Berlim. Fui detonada como hiroshima pela bomba atômica, mas assim como os países aprenderam com os perigos das armas nucleares e a segunda guerra mundial, assim como os torturados entenderam sobre o enfim direito de escolha presidencial tanto sofrida durante a ditadura militar, estou mais forte, me armando, me preparando e demonstrando neutra, mas se sofrer outro ataque surpresa para devastar o mais frágil terreno como  Haiti a 5 anos e 1 dia, estarei pronta e não tão frágil, estarei com minhas naves espaciais estilo a NASA para me proteger da radiação e as armas do Iraque para contra-atacar. Por enquanto, vivo parcialmente um período da guerra fria comigo mesma. Mostrarei o quão forte e equipada estou, mas não atacarei ou me recolherei até o primeiro sinal concreto de ameaça, mas estou tão viciada em observar os ataques e as pessoas ao meu redor, como Obama vigiando um país tão neutro externamente como o Brasil.
   Mas, qual é, por dentro eu sou apenas mais um Judeu amedrontado no holocausto, uma criança temendo o banho de ácido querendo o colo da mãe e do pai, mas eles estão longe demais para me socorrer. Estou com tremedeira, dores e pesadelos, e muita das vezes não me seguro e corro para aquele carinho que apenas meu pai, aquele alcoolatra indeciso e problemático consigo mesmo possa provocar, e embora eu vá ser atacada, assim como sou com minha tia do mesmo sangue rígido de meu pai, os poucos momentos de felicidade parecem curar as feridas de minha alma arrebentada. Mas tenho que deixar essa exploração de lado, parar de fechar meus olhos para a corrupção e voltar ao armamento que contrui a vida inteira de sofrimento.
 Mas... Ao mesmo tempo, sinto-me indecisa. Me fechar por inteiro seria me privar do amor, embora eu não acredite que ele venha - da mesma forma que esperar um ônibus as duas da madrugada na rua deserta... - ou devo me deixar ser destruída e engolir a água salgada e poluída do mar apenas para aproveitar a vista embaçada do coral?

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