Ciclos da vida

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

  É um ciclo, tanto filosófico quanto do meio ambiente. Olhe como está quente, e o sol ardendo e o céu azul, bem azul, pouquíssimas nuvens enfeitam o céu, e então, começa a se juntar, começa a escurecer, tudo fica cinza e bum, a tempestade quase derruba a árvore da casa vizinha, o vento foi tão forte que derrubou umas madeiras no batente, tudo estava escuro, mal dava pra notar a torre pequena com sua luz vermelha brilhante de tão forte que estava, você podia ver a força do vento e quase ouvi-lo, zombando de você. E no jornal, lixo sendo arrastado, carros lutando em água poluída de erros e hipocrisia, árvores cansadas de tentarem caindo e caindo causando mais estragos. Maldito ciclo da vida, que após essa tempestade de poucos minutos, em que o raio iluminava tudo e o trovão tremia os vidros e nos assustava como a voz de um pai bêbado após o serviço, que destruiu casas, lojas e planos brilhantes e limpos, o céu fica limpo novamente, quase como um pedido de desculpa e riso de sua cara. Os pássaros aqui perto cantam, parece que você teve apenas um pesadelo, mas as cicatrizes ardem em seus pulsos enquanto o jornal mostra todos os estragos, a maioria irreparável quanto a mulher na linha do trem. O sol está bonito, amarelo fraco em contraste com o azul e algumas nuvens  embaçadas entre cinza e branco, a árvore não balança mais, não há berros nem tremor dos trovões, nem sendo obrigado a apagar as luzes e se esconder embaixo das cobertas com medo dos xingamentos lançados tão rápidos e perigosos como os relâmpagos, palavras bonitas quanto o corto branco-roxo no céu escuro que são como facas afiadas te destruindo de dentro para fora.
  Eu não a vi se jogar, mas vi o trem um tanto fora do trilho, e vários funcionários de colete verde claro e alguns com luvas brancas e fedidas de médicos mexendo nas rodas, enquanto muitas pessoas se aglomeravam, algumas curiosas, irritadas, apavoradas ou desinteressadas. Grades foram colocadas para espantar os curiosos e emocionados, aquela manhã ensolarada e calorenta de sábado foi manchada assim como os trilhos de sangue e pedaço do corpo esmagado por rodas pesadas e imensa de um trem vermelho comum. Disseram que ela era nova, eu vi seu sapatinho branco e seu colar verde e rosa jogado nos trilhos. Disseram que houve um freio forte, um impacto, um susto e uma perna de cada lado dos trilhos, escondida em pedaços por sacos pretos embaixo da plataforna "nada pode ser divulgado até o consentimento da família" mas muito já sabiam, testemunharam com tristeza e agonia enquanto a mulher se jogava nos trilho do trem. É horrível, não é? Saber que não é a única que pensa na morte, mas talvez a única que não quer de fato conhecê-la. É estranho gostar da vida ao mesmo tempo que quer desistir, é como aquele sonho bonito que você sabe que foi bom mas desiste de se lembrar, dói demais a cabeça para continuar. Ela pulou, e eu não. É tão simples se matar, e a maioria das pessoas evita a morte enquanto ela está estampada em nossa frente. Ela pulou, e eu estou aqui escrevendo pra poder desabafar sobre minha busca dessa anônima corajosa e infeliz, descobri que se chama Claudinha, e tinha uma filha. Ela era tão bonita! E a família achou estranho, "suicídio? Não acredito nisso" e eu não sei, ás vezes a pessoa passa anos ao nosso lado e não sabemos que seu mais profundo desejo não é um namorado ou um milhão de reais, mas sim cometer o simples ato de cair nos trilhos enquanto o trem se aproxima e BUM, a dor deve ser horrenda, mas rápida. Em poucos segundos você cai no que não podemos prever.
  Deus! Como eu falo!
   Perdão por não responder os comentários, acho que é algo com a html que pode prejudicar... tentarei arrumar, sinto-me mal deixando-as no vácuo... mas eu leio, eu juro, penso na resposta e não consigo escrevê-la. Bem vinda, Mafalda. E eu sei como é gostar do por-do-sol, gosto dele também, acho-o mais lindo que o nascer do sol em questão de, bem, beleza. kk' Juca, também me pergunto "onde foi que errei", eu era uma criança feliz, embora eu não seja extremamente triste, mas havia algo mais colorido que estou tentando resgatar, mas esse ódio que sinto por mim mesma... Ah, ele é forte, é um vermelho berrante que sinto vontade de fazer sangrar pelos pulsos apenas para ter certeza de que é real. Eu não consigo, sou apenas mais uma no mundo, insignificante e fácil de ser esquecida. Eu sou cheia de erros e fracassos comigo mesma, decepciono algumas pessoas por não tentar mais, por não ser boa demais. Me sinto insuficiente para todos ao meu redor, inclusive para esse furacão dentro e mim mesma. "Você é tão nova!" as pessoas dizem "mas tem mentalidade de BEM mais velha. Isso é bom e perigoso" e eles pedem que eu tente mais, e eu estou cansada. Eu quero um emprego, eu estou tentando mas agora só me resta aguardar. Eu quero passar na faculdade, estou forçando meu cérebro a aprender o que estudo e gostar disso para não parecer obrigação. Eu quero ter amigos, juro que tento me incluir em círculos na escola, mas meus assuntos e interesses não são os mesmos que os deles; pessoas mais velhas me entendem, me escutam e falam comigo. Eu não consigo me importar com a vida daquele cantor ou maquiagem e cabelo, embora, como mulher, devesse tal coisa. Deixei de me importar com meu rosto destruído pelas espinhas, isso não ME afeta mais. Não sou uma pessoa apaixonante, meus amigos são poucos porque são aqueles que tenho há anos, quando era uma pessoa mais sociável e menos complicada. Não consigo deixar que me toquem, que entrem em minha mente e baguncem meu coração. Eu gosto de sair, pegar um ônibus e escutar uma das 1500 músicas que tenho no celular, gosto de observar as ruas bonitas, gosto dessa calmaria. Gosto de conhecer um lugar novo. Odeio quando vou sozinha, mas também odeio estar acompanhada, é uma confusão, linhas opostas brigam por território e são igualmente fortes e armadas, quase impossível de vencer. Vou viver assim, sempre. Até, bem, quando isso acabar.
  Mas não pularei nos trilhos do metrô, não quero uma plateia de desinteressados, em que pouquíssimos se sentem comovidos de verdade e buscam saber mais sobre a pessoa - e eu queria TANTO saber o que ela pensou por último, quais foram seus reais motivos e se foi MESMO suicídio... - eu provavelmente me jogaria de um penhasco, apreciando a sensação de voar e, por fim, deixando que a imensidão azul me devore e me faça um de seus segredos. É a morte mais poética, agradável e desejável que tenho. Mas gosto tanto da vida que não sei quando enfim teria coragem de fazer... talvez apenas quando sentir que me tornei realmente mais uma, que deixei a vida ir embora e só respiro por obrigação. Antes de isso acontecer, de ser mais uma sobrevivente apenas, eu, com certeza, serei levada pela imensidão azul até ninguém nunca poder descobrir onde estou e o que realmente aconteceu.




1 comentários:

  1. Não pare de escrever, por favor. Talvez o peço pois implica outras coisas, mas deixo na incerteza, só quero que você escreva.

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